Não precisamos ir muito longe para constatar que a violência contra crianças e adolescentes tem se tornado um mal crônico e quase cultural no Brasil
Digamos sim ao amor e ao cuidado das crianças – afinal, são elas nossas filhas
No dia 12 de janeiro, foi preso o acusado de ter raptado, molestado sexualmente e depois assassinado a criança Alanis Maria, de apenas 5 anos. A criança estava com seus familiares na celebração de uma missa na Igreja Matriz do Conjunto Ceará, em Fortaleza (CE). O acusado confessou ter assistido parte da celebração, e quando percebeu a criança mais distante dos olhares das pessoas procurou chamar sua atenção até levá-la para o matagal onde, posteriormente, foi encontrado o corpo da criança. Foi insuportável a indiferença e frieza com que relatou com detalhes ato tão perverso. Se é verdade a confissão do suposto criminoso – a de que fora molestado sexualmente quando pequeno –, o tema sobre a proteção das crianças é bem mais amplo e os seus desdobramentos, mais dramáticos.
O assunto é complexo e tem várias interpretações. Não precisamos ir muito longe para constatar que a violência contra crianças e adolescentes tem se tornado um mal crônico e quase cultural no Brasil. Ela vai da indiferença e do descuido ao abuso e exploração sexual, passando por toda sorte de maus tratos e chegando aos casos de assassinato. Tratando-se da violência sexual praticada contra criança e adolescente, ela pode manifestar-se de diversas formas, sendo as de maior ocorrência o abuso sexual dentro da própria família e a exploração sexual para fins comerciais. Menores submetidos a esse tipo de violência sofrem danos irreparáveis para o seu desenvolvimento físico, psíquico, social e moral.
Tenho me deparado com vítimas desse absurdo. São meninos e meninas que tiveram suas infâncias roubadas e os sonhos perdidos; resta-lhes um futuro sem perspectivas. Uma garota de 11 anos me contou o seguinte: “Transei com um gringo, recebi o dinheiro e fui comprar brinquedos”. Atividade de adulto, corpo e cabeça ainda infantis. Qual será o futuro dessa menina? E de tantas outras vitimadas pelo abuso e exploração sexual no Brasil?
Tão grave quanto a pedofilia é o muro de silêncio que cerca essa situação, constituído pela indiferença social e pela cultura da impunidade dos agressores. Cria-se, assim, uma nova forma de violação às vítimas. A sociedade, de modo geral, precisa estar mais atenta – mas, principalmente, os pais e mães, os homens e mulheres que se confessam seguidores de Jesus Cristo precisam estar mais comprometidos em seguir os ensinos do Mestre sobre a prioridade das crianças em sua nova sociedade: o Reino de Deus. “Quem recebe uma criança em meu nome, a mim me recebe”, disse o Filho de Deus.
A Igreja, principalmente, não deve se manter indiferente a um problema tão grave, que além de afrontar a vida, encobre a possibilidade de acolhermos a revelação de Deus na vida de nossas crianças. É uma questão de compromisso com o Deus eterno, o Pai protetor de todas as crianças. E essa proteção divina vai se realizar através das mãos dos servos de Cristo, que resolverem continuar a história da salvação, preservando a vida, cuidando e amando uns aos outros e praticando a justiça contra o opressor e espoliador.
Como eu gostaria de perceber outra vez as crianças perturbando nossas liturgias e nossos espaços burocráticos. Quanto mais elas estiverem perto das pessoas de bem, mais estarão protegidas. É nossa a tarefa, como cidadãos e como Igreja do Senhor, torna-las protagonistas das manifestações de Deus em nossas vidas. Sim, que ele nos ajude em nossa conversão e sabedoria criativa. Precisamos propiciar às nossas crianças espaços coletivos de lazer e educação, ambientes comunitários onde, sob os olhares de muitos, elas possam ser percebidas como atores da revelação de Deus e não como objetos de desejos torpes e vis interesses comerciais. Precisamos também acionar os mecanismos legais e de responsabilização – seja da família, da escola ou do Estado.
Faça da sua família, de sua igreja, de sua comunidade, um ambiente em que o bem suplanta e vence toda forma de mal e violência. Vençamos o mal com o bem. Estejamos comprometidos contra toda a forma de violência. Como disse o reverendo Luther King, que digamos “não à violência do coração, não à violência da palavra, não à violência do punho”. Digamos sim ao amor e ao cuidado das crianças – afinal, são elas nossas filhas.
A criança Alanis Maria se foi. Quantos outros casos estão acontecendo neste momento pelo Brasil sem que tomemos qualquer conhecimento, vitimando menores e famílias excluídas, sem qualquer acesso aos meios de comunicação?
Quantas serão inexoravelmente entregues ao abandono e ao esquecimento? Se somos filhos e filhas de Deus, proteger e servir a toda e qualquer criança é servir aos filhos e filhas da mesma família. Em outras palavras, é servir a si mesmo como parte de um todo: a humanidade amada por Deus.
Carlos Queiroz
FONTE - Cristianismo Hoje /Escritura em foco
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